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quinta-feira, janeiro 03, 2008

Ilusões carnais

Encontro-me com o meu ser. Desacordada nesta cama. Foste mais do que memória nos corpos de outros. Não eras tu. Não era ninguém. Ninguém que me ficasse na memória. Só tu. Quem eu procurei noutros sorrisos, noutros seres. Fiquei, sorri. Entreguei-me aos prazeres da carne. Fingi que te tinha. Mas não tinha. Não eras tu. Nem sequer uma imitação de ti. Mas fechei os olhos e vi-te. Talvez até te tenha sentido. Em muitas alturas, estiveste comigo. Até ao despertar. Até voltar a olhar o escuro. Este escuro em que a minha alma se tornou. É quando esta luz sombria me envolve, que a solidão me dói mais. Porque percebo que me enganei de novo. Que me afundei mais ainda nesta escuridão. Não eras tu. Nunca mais serás tu, aqui ao meu lado, no meu corpo. Apenas permaneces em mim, em memória que teima em não desaparecer. E eu, que te tenho aqui, percebo que a cada imitação tua que encontro me sinto mais só, mais longe de te ter. A ilusão dos corpos. O pesadelo logo a seguir. Agora, apenas quero deixar-me dormir. Deixar o meu corpo repousar deste sexo fingido que não me cala a dor. Deixar-me dormir e quem sabe, sonhar contigo. Uma vez mais.
(in "O corpo dos outros")

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