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quinta-feira, maio 17, 2007


Sinto um fio de água descendo lentamente pela minha face.
Não tenho memória de ter algum dia sentido esta dor.
Não recordo, por entre todas as tristezas, algo que me rasgasse assim.
Sinto que uma dor…vazia.
Como se uma mão me tivesse esgravatado o peito e de lá arrancado tudo…
E de repente, nada tenho senão um vazio profundo, feito de silêncio e de dor. E até de ausência de dor. Ausência de tudo. O que dói ainda mais…
E nas sombras das paredes me movimento, silenciosa. E no contraste da sombra com esta luz que tudo queima, também esta penumbra das paredes me dói. Como fogo. Deslizo em movimento mecânico. Porque o rumo se perdeu. Não sou mais quem construí. Imponderáveis, pedregulhos em que fui tropeçando, rasgões de sangue que nunca cicatrizaram.
Sou uma miragem de mim, perdida entra as sombras destas paredes que tacteio e a luz incandescente que tudo abrasa. Sou…apenas. Sobrevivo ao devir, às mãos que me despedaçam. Sobrevivo. Nem sempre coerente. Raramente lúcida. Mas nunca imaginei que existisse além da dor, além do sentir. Para além do imaginável. E o que existe? Vácuo. Escuridão. Fogo. Ar irrespirável. Mesmo que já não se queira respirar. Mesmo que já não se queira mais nada. E…já nada mais se quer…
Paro no fim desta sombra, na esquina desta rua. Olho. E numa réstia de memória recordo as asas de uma gaivota planando sob o céu azul profundo. E chega-me o perfume da água salgada. E a imagem daquele mar imenso. E apanho uma onda branca e atiro-me…não me interessa saber se as pedras desta calçada são escuras e gastas e me queimam a pele. Sabe-me a mar revolto, a espuma salgada. Deixarei que este ondular me leve de volta para onde nunca estive. Que venha o mar e me abrace neste sonho de reencontro que nunca saboreei. Até sempre…