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sexta-feira, abril 15, 2005

Ser adulto é renascer em cada momento em que se fica só

Há quem sinta falta dos mortos.
Eu só sinto falta dos vivos.
Com alguma ironia, costumo dizer que "quem já cá não está, já não me aquece os pés".
Bem sei que tenho sido poupada pela vida nesse aspecto. Pelo menos, por enquanto! Lá chegará a minha vez. Mas também mereço ser poupada em alguma coisa.
Ainda assim, sinto falta dos vivos.
Talvez quem sente falta dos mortos, não sinta falta dos vivos.
Não sei.
Sei que a solidão mata. Porque vai moendo, desgastando. Tirando anos de prazer.
E a solidão pode-se sentir mesmo quando não se está sozinho. Mesmo quando todos em redor pensam que está tudo bem.
Cabe a quem está só, rodeada de gente, dizer a solidão que sente?
Os afectos não se pedincham.
Além de que, passei dos trinta!
(Esta coisa de se dizer "passei dos trinta, dos cinquenta, etc" tem a sua piada!)
Significa, antes de mais, que não me sinto disposta a fazer certas coisas e a aceitar outras tantas que me desagradam.
Talvez signifique, também, algum desencantamento. Ou descrédito.
Afinal, há uma certa altura da vida em que deixamos de acreditar que certas coisas que esperávamos serem possíveis, possam, de facto, vir a sê-lo.
Acham que desiti? Nem por isso.
Apenas reajustei a minha capacidade de acreditar.
Reavaliei o dispender de energia para outros canais.
Porque há certos, que secaram de vez.
Não fico triste com isso.
Quer dizer, fico. Mas não da forma como imaginei que pudesse ficar se um dia deixasse de acreditar.
Fica apenas um ar sombrio. E um sabor amargo, também.
Mas é assim. E não me parece que possa ser diferente por agora. E também não me apetece perder tempo e energias pensando como e se um dia poderá vir a ser diferente e melhor, novamente.
Se a solidão faz crescer, faz ser adulto, então eu tenho - sinto-me - com centenas de anos.
Sinto falta dos vivos.
Fazem-me falta....