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sexta-feira, outubro 31, 2003

Fragmentos de "Por acaso..."

- Não quero sair daqui sem ti.
- Não sairás. Não te deixo ir sem mim. Quando te levantares, eu seguirei os teus passos. Deixarei que me guies com o olhar e me leves um outro lado qualquer. Onde não haja gente barulhenta. Onde o calor deste fim de dia, não incomode mais. E quando te despir esse vestidinho minúsculo que trazes, vou poder finalmente ver-te. Toda. Vou passar as minhas mãos pela tua pele e cheirar-te. Quero que o teu perfume fique na minha alma. Para que nunca mais saia. Quero beijar-te, aos bocadinhos, com paciência. Para que fiques toda gravada em mim. E te reconheça ao centímetro de olhos fechados. És minha porque te carrego há uma década dentro de mim. És minha porque só eu te sei amar pelo que não és. Só eu sei querer-te mesmo quando me ignoras. És minha porque a paixão não tem limites e o meu corpo te pede. Mesmo quando não me queres. Mesmo quando amas outros corpos eu estou ao pé de ti. Esperando por um olhar. Por um sorriso. Esperando que me desejes. Independentemente do lugar para onde me levas, da dor que me provoques. Serei sempre teu, porque tu és minha. E não há nada que possas fazer em contrário. És minha porque nasci contigo no coração e porque fizeste despertar o meu desejo. E, desejo-te com o meu corpo, com a minha alma, com a minha carne, sedento. Aflito. És minha porque ninguém te vai amar tanto, ninguém mais poder ver este teu olhar de prazer. Serás sempre minha, mesmo quando me deixares na penumbra do quarto e saíres devagarinho para não me acordares. Serás minha porque nunca ninguém te amará tanto. Mas isso tu ainda não sabes. E eu também ainda não sei se alguma vez o saberás. E não te vou contrariar. Um dia irás embora. Terás outros desejos. Farás amor com outros corpos. Terás prazer sem mim. Mas não será igual. Não será melhor. Mas deixo-te ir. Porque o amor não se obriga. O desejo não se contraria. Porque a memória não se apaga. Porque também tu terás sempre dentro de ti, a memória dos meus beijos, as marcas do meu desejo. E terás saudade, ou outra coisa qualquer. E voltarás para mim. Talvez muitas vezes. Talvez vezes demais. Mas eu saberei esperar por ti. Porque eu sei que és minha. És minha porque é no meu corpo que o teu repousa quando o mundo te vira as costas. És minha. E no entanto, nada farei para que venhas, para que fiques. Serás senhora do teu tempo, do teu mundo. Mesmo que esperar signifique sangrar. Mesmo que me doa a espera, mesmo que me arranques pedaços da alma ao ver-te com outros. Mesmo que o teu sorriso nem sempre me pertença.




segunda-feira, outubro 13, 2003

Um quarto em Amsterdam - Náufraga

Penso muitas vezes em te escrever, em te voltar a ver. Na quietude dos meus dias, o perfume do teu rosto assalta-me vezes sem conta. Penso em ti e fico saudades...
Mas não me atrevo. Não devo atrever-me. Não sei como seria se te ligasse. Penso naquela noite em Amsterdão. Recordo o prazer e sorrio! Lá fora é noite e o céu tem uma imensa lua alaranjada e uma multidão de estrelas cintilantes. Sabes, fico horas a olhar o céu, recordando-te. Sei que não te devo ligar. Saí sem me despedir. Não te quis dizer adeus. Adeus deixa uma impressão profunda de que é para sempre. E eu quis deixar no ar a incerteza. Talvez não seja para sempre. E por isso deixei-te sereno, a dormir.
Talvez quando acordasses não sentisses a minha ausência. Mas, sentiste? Como gostava de saber. Se valeu a pena. Se não terá sido loucura, não lutar por ti. Mas...Não quis. Não é assim que quero ser amada. Pensei que ... talvez me quisesses.
Sofri, como se diz, um acidente. A culpa foi da chuva, dizem-me. Mas não sei se acredito. A chuva pode dar vida. A mim, dizem-me, tirou-me um bocadinho de vida.
Deixei-te dormindo. E estive numa paragem de autocarro, à espera. E chovia muito, muito. Tinha o corpo encharcado e frio. Muito frio. Tinha a alma gelada. As minhas lágrimas confundiam-se com as gotas de chuva. Torrenciais. Fiquei ali, à espera. Como quem espera um autocarro que nunca chega. Mas nunca vieste...E fui-me abandonando à dor. Deixei que me torturasse. Que me esventrasse a alma... Doeu tanto que pensei nunca superar. Nunca iria cicatrizar. Alguém me levantou do chão onde me deixei cair. E à chuva, me carregou nos braços para um lugar qualquer. Seguro. Aqueceu-me. Salvou-me de morrer. Mas não me deu a vida de novo. Continua aqui, à cabeceira, velando. Porque sabe que não estou curada. Tive de coser a minha alma de novo. Mas eram tantos os bocadinhos, tantos que não os soube juntar bem. Nunca fui boa a coser. Ficam sempre uns pontos mal dados. Uns pedaços mal remendados. E no fim, a peça não volta a ficar igual. E é assim, que me sinto. Remendada. Mas não igual. Mais pequena, talvez. Não cosi tudo. Pedaços houve que não tiveram conserto. Não os deitei fora. Guardei-os numa gaveta junto à minha cama. Estão lá. Quando morrer, levo-os comigo. Não vá pensarem que perdi um bocado da minha alma. Não senhor. Só que já não a visto. Inteira. Agora, aprendo a falar de novo. Mas não sei ainda andar. Tenho de aprender tudo. Ou o que conseguir. O que o tempo que me resta, me deixar. Porque o tempo manda. Muito mais do que os homens. É como um casaco que nos protege do frio, mas nos faz suar ao sol. Percebes? Estamos ali, enredados. Damos um passo e o caos, fecha-se logo atrás de nós. Não deixa uma brecha sequer. Nem um fiozinho de ar. Nem um espacinho, sequer. Não sei explicar melhor agora. Tenho febre. De tempos a tempos tenho febre. Antes não era assim. Mas antes, era diferente, também. Agora, fico muito cansada. Muito depressa. Custa-me respirar. Custa-me viver. Parece que me arrasto no tempo. Aqui deitada, as horas vão passando como se eu estivesse a enrolar novelos de lã. Mas o meu novelo, parece-me, não cresce. Vai diminuindo. E eu rendo-me ao cansaço... Acho que é por causa deste cansaço que não faz sentido o que digo. Dizem-me. E eu percebo que não me dão muito crédito, já. Mas, eu acho que é da febre. Acho que me vai consumindo...Me vai cansando...
Pablo Neruda
Odes Elementares

" Ode ao Tempo

A tua idade dentro de ti
crescendo,
a minha idade dentro de mim
andando.
O tempo é resoluto,
não faz soar o sino,
cresce e caminha
por dentro de nós,
aparece
como um lago profundo
no olhar
e junto às castanhas
queimadas dos teus olhos
um filamento, a pegada
de um minúsculo rio,
uma estrelinha seca
subindo para a tua boca.
Nos teus cabelos
enreda o tempo
os seus fios,
mas no meu coração
como uma madresilva
está a tua fragância,
incandescente como o fogo.
Envelhecer vivendo
é belo
como tudo o que vivemos.
Cada dia
para nós
foi uma pedra transparente,
cada noite uma rosa negra,
e este sulco no meu ou no teu rosto
é um pedra ou uma flor,
recordação de um relâmpago.
Gastaram-se-me os olhos na tua formosura
mas tu és os meus olhos.
Sob os meus beijos talvez tenha fatigado
os teus seios,
mas todos viram na minha alegria
o teu resplendor secreto.
Amor, o que importa
é que o tempo,
o mesmo que ergueu como duas chamas
ou espigas paralelas
o meu corpo e a tua doçura,
amanhã os mantenha
ou os desgarre
e com os mesmos dedos invisíveis
apague a identidade que nos separa
dando-nos a vitória
de um único ser final sob a terra. "

sábado, outubro 11, 2003

Não sei o que dizer...
Quase tenho medo das palavras.
Do que podem dizer, do que podem esconder.
Sabes quem sou? O que sou?
Também eu queria palavras novas.
Espaços novos onde me encontrar.
Onde me pudesse despir.
Não sei bem o que digo...
Não sei bem o que quero dizer.
Sei que gostava de....
Galgar novamente oceanos,
Quebrar as barreiras de terra que me impedem de estar, de novo, no Reino da Dinamarca!

sexta-feira, outubro 10, 2003

Alguém especial...

Há pessoas que povoam a minha vida desde sempre...
E, que por imensos motivos que me levariam dias a explicar, se tornaram essenciais para mim.
O Rui é um desses amigos.
Não prescindo dele.
Ésteve sempre - desde sempre - presente na minha vida.
Mais nos maus momentos do que nos bons.
Talvez me tenha dado mais do que recebido.
Esteve sempre presente para me apoiar quando vacilei, para me criticar quando errei e para me dar um abraço de carinho quando a vida me fugia.
Nos dias bons e nos dias de desespero.
E nunca - nunca! - me pediu nada em troca!
É assim a amizade.
E eu fico feliz por ser meu amigo. Por ser meu cumplice na vida.
Bem sei que não preciso destas palavras para que saiba tudo o que aqui ficou escrito e tudo o que ficou por escrever.
Mas, hoje, o meu amigo renasceu!
E eu estou feliz!

Cá estou de novo!

Estive ausente. Estive absorvida com trabalho, com a organização do Seminário do Dia dos Castelos.
Não sei se os outros gostaram do que fiz.
Mas em consciência, sei que o que dependia de mim, correu bem.
E, por isso, sinto-me bem!
Mas não estou ainda, aliviada!
Parto agora para um novo desafio: o I Festival de Cinema de Portel!
O I Festival de Cinema de Portel "O Castelo em Imagens", vai decorrer em Portel entre os dias 20 e 25 de Outubro.
Tal como o nome indica, todos os filmes terão, directa ou indirectamente, relacionados com Castelos.
Segundo Lauro António, o Director do Festival, é talvez o único festival de cinema dedicado aos Castelos.
Estou expectante!
Estou contente!
É bom quando fazemos coisas novas, diferentes do usual.
É bom quando arriscamos para lá do que conhecemos e sabemos que funciona!
Em breve, colocarei a programação no Alma Mater.