abrotea

palavras!simples palavras! patriciags468@gmail.com

segunda-feira, setembro 29, 2003

Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva.

Ultimamente, a escrita é contida e cautelosa. Como se fosse preciso poupá-la. Como se fosse necessário restringir o seu uso. Preciso de todas as palavras para um novo "conto" que está em marcha. Um?! Bem, confesso... Dois. Distintos. Sem ligação aparente.
Por sso, vou recorrendo a citações que, de tempos a tempos me vou recordando. E de que gosto assim, sós. Sem recorrer a textos de suporte, a teorizações. Apenas às palavras que cito. Desta vez, é Almada Negreiros. Em breve, Miguel Torga.

sábado, setembro 27, 2003

A mente humana é algo que me fascina! Como é possível recordar números, palavras, coisas que pensamos já ter esquecido para sempre e, de repente, estão cá novamente, sem esforço! Como se nunca tivessem sido esquecidas...

sexta-feira, setembro 26, 2003

"Uns governam o mundo, outros são o mundo"

Bernardo Soares

quarta-feira, setembro 24, 2003

"Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga:"vem por aqui"!
Aminha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí!"
in Cântico Negro
José Régio

quinta-feira, setembro 11, 2003

Por acaso...

O empregado continuava a olhar impávido para mim. Tinha de decidir rapidamente.
- Um café ou talvez água. Não, espere!
Ficar aqui, sentado na esplanada a beber um café ou água, faz-me lembrar os tristes. Aqueles que esperam e desesperam por alguém. E ali ficam, desconfortáveis com os olhares. Com a certeza de que todos sabem que foram esquecidos. E nesse instante, esboroa-se toda a importância do ser, porque afinal, quem é importante não espera por ninguém! O ar de enfado do empregado começa a irritar-me.
- Não sei o que vou tomar, digo-lhe depois.
E fico a vê-lo a afastar-se, indiferente. O meu corpo rendeu-se ao calor e transborda. Fico desconfortável, não queria que me visse assim...O empregado olha para mim, de longe. Tenho mesmo que decidir o que tomar. Talvez assim me livre daqueles olhos vazios. Talvez um Gin. Sim, um Gin Tónico! Parecia mal? Acho que não... No calor deste fim de tarde ia beber um Gin e escaparia à imagem dos tristes. Passaria a ser um daqueles que se delicia no descanso. Daqueles que apreciam a vida e os seus prazeres.
- Um Gin Tónico, por favor!
Olho em volta e claro que ninguém reparou em mim. O calor animou as conversas e tornou os corpos indulgentes. Ninguém reparou que continuo à espera. E com um pouco de ansiedade, confesso. Mas tenho vontade de a ver de novo! Nunca imaginei voltar a vê-la e por isso o acaso apanhou-me desprevenido. E fiquei, penso, com ar de adolescente.
Como me encantou a luz dos seus olhos! Acho que estava bonita, mas não sei bem o que mudou nestes 10 anos. Sei que os seus olhos brilham de intensidade. Não sei, não me lembro como é o seu cabelo, que transformações sofreram com o passar dos anos. Não sei se o seu corpo amadureceu. Só fui capaz de a olhar nos olhos. E a sua luz ofuscou tudo o mais. E dei comigo a querer voltar a vê-la.
- Amanhã, às cinco. Na esplanada, lembras-te?
- Na esplanada?... Claro que me lembro! Lá estarei!
Mas já não me lembrava. E passei a noite a calcorrear os caminhos da minha memória em busca de uma esplanada. Não uma esplanada qualquer, mas daquela esplanada!
E agora que cá estou, lembro-me de muito mais. Lembro-me que chegar a horas nunca foi o seu forte. E agora, à distância, rio-me das minhas brigas pelas demoras!

Vou explicar!

Um dia prometi contar como troquei o meu mar salgado por por este mar de searas amareladas. Não ficou esquecido. Apenas adiado.
Não sei, ainda, escrever sem tempo. Nem escrever, nem pintar, nem fazer nada que precise de mim inteira. E, afinal, tudo ou quase tudo o que faço precisa que esteja toda, inteira, de coração. Por vezes é difícil conciliar tantas paixões! Mas lá vou tentando, um bocadinho aqui, outro acolá. E vai dando para que o tempo vá chegando para tudo.
Num dos últimos dias, dei comigo a recordar uma grande parte da minha vida. Os amores e desamores, as grandes paixões e, claro está, os grandes sofrimentos. A tua vida dava um filme, dizem-me...Talvez desse. Mas isso não importa. O importante é não perder a capacidade de amar intensamente e de chorar quando dá vontade. De me sentir zangada com o mundo mas sabendo que não me dou por derrotada.
Caminho ligeira e de quando em quando, tropeço. Mas levanto-me e volto a erguer a cabeça para caminhar de novo. E as memórias servem para isso. E, como disse no post de 14/7, não me interessa saber quem repousa na saudade, interessa-me o pensamento, a capacidade de sentir.
Vou trabalhar!